Escrito por Gustavo Brito
Termo que anda na moda em T&D, Cultura de Aprendizagem passeia por postagens, entrevistas e compartilhamentos de profissionais de recursos humanos com alguma frequência ultimamente. Entretanto, é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que encontrar publicações que se proponham abordar o tema com a profundidade que ele pede.
Isso se deve, em boa medida, pelo fato de consultorias e consultores não serem equipados e capacitados em Ciências Sociais (especialmente antropologia e sociologia). Lamentavelmente, fala-se de cultura de forma muito superficial, o que acaba por banalizar o trato desse elemento tão importante para as organizações. Por sorte, podemos contar com autores como Edgar Shein, Daniel Motta, Kim Cameron e Robert Quinn para compreendermos cultura corporativa com o rigor adequado. Contudo, quando se trata de cultura de aprendizagem, não se encontram mesmo contribuições tão proeminentes e voltadas para tipologia de culturas de aprendizagem ou modelos para diagnóstico de culturas de aprendizagem.
Foi com o intuito de contribuir de forma original para o campo da educação corporativa e para o conhecimento sobre cultura de aprendizagem nas organizações que me propus investigar e pensar sobre esse tema. Penso que com os insumos desse artigo (e do livro A Horta, que está para ser publicado nesse primeiro semestre), teremos (nós, profissionais que atuam com treinamento e desenvolvimento), mais clareza e precisão na lida com o ethos, o logos, o pathos e o mythos de aprendizagem de grupos específicos de pessoas.
Cultura de Aprendizagem é o conjunto de valores, símbolos, crenças, rituais, vínculos emocionais, lógicas, leis, narrativas, mitos relacionados à educação que um determinado grupo de pessoas carrega consigo, seja de forma consciente ou inconsciente. Um bom exemplo de cultura de aprendizagem corporativa inconsciente é o ritual de onboarding informal de uma nova colaboradora, isto é, o embarque que acontece por conversas de corredor, pelos simbolismos numa primeira reunião, pelos valores compartilhados em um papo em frente ao espelho do banheiro. Um exemplo de cultura de aprendizagem corporativa consciente é, por sua vez, a lógica de recompensa pelo engajamento em um treinamento com a emissão de um certificado. Em suma, chama-se cultura de aprendizagem a manifestação do ethos, logos, mythos e pathos de educação no dia a dia de um grupamento humano, não importando sua natureza.
Há mais de 20 anos imerso no ambiente educacional, sendo os últimos 10 na educação corporativa, tive a oportunidade de observar, interagir e identificar 8 tipos dominantes de cultura de aprendizagem em organizações, independentemente de seus tamanhos, localizações ou setores de atuação. Essa tipologia compreende e explica a quase totalidade das naturezas de cultura de aprendizagem corporativa e nos servem como pontos de partida ou chegada em projetos de gestão da mudança no comportamento educacional de colaboradores.
Os 8 tipos são os que seguem:
Entre as 8 não há hierarquia, isto é, não há como dizer qual é a melhor. Entretanto, há como dizer qual é a mais adequada para as ambições de uma dada organização. Além disso, é preciso ressaltar que não são raras as ocasiões em que os 8 tipos de cultura de aprendizagem convivem em uma mesma empresa, o que pode representar dificuldades para o time de treinamento e desenvolvimento nos quesitos customização e escala de suas ofertas.
Na Afferolab levamos cultura de aprendizagem muito a sério e temos uma metodologia proprietária, inspirada no modelo de Cameron & Quinn (Competing Values Model), que nos possibilita produzir um diagnóstico preciso das culturas de aprendizagem existentes em uma empresa e, assim, desenhar estratégias específicas para adequá-las ou aproximá-las das ambições (propósito, visão e estratégia) da organização.
Tal metodologia se chama "Topos" e se trata de um mapeamento "topográfico", ou seja, de uma investigação que visa desvendar as relevâncias culturais de aprendizagem de um (ou mais de um) grupo em uma organização. Nessa metodologia, lançamos mão de uma abordagem etnográfica que combina pesquisa de campo, surveys e entrevistas em torno de 8 características predominantes na educação e contornando os 4 elementos de cultura: ethos, mythos, logos e pathos.
O resultado de um levantamento topográfico da Afferolab é o diagnóstico que apontará as características mais relevantes de cultura de aprendizagem de uma dada empresa e nossa recomendação de ações para que estejam alinhadas de forma potente aos anseios estratégicos da companhia. Essa abordagem metodológica autoral e exclusiva é um dos principais diferenciais da consultoria de aprendizagem da nossa empresa e um fator determinante para o sucesso de empreitadas educacionais em terrenos corporativos, por isso é cuidada como uma etapa incontornável no desenho de ecossistemas, universidades corporativas, jornadas e trilhas customizadas.
Assim como a dinâmica organizacional de uma empresa envolve a relação íntima entre ambições (propósito, visão, estratégia) e potências (cultura, design, capacidades), a dinâmica de aprendizagem contínua (e ambições educacionais) de um grupo de pessoas (ou de toda uma empresa) também depende da cultura ou das culturas de aprendizagem instaladas no cotidiano de seus colaboradores. Portanto, tratar de entender e criar estratégias em volta desse tema com mais substância e conhecimento profundo não é apenas algo desejável, mas atributo incontornável para quem busca sucesso em suas iniciativas de educação corporativa.
Onde tem gente tem cultura e tem cultura de aprendizagem. Tanto uma quanto outra podem ser grandes obstáculos ou poderosas aliadas no alcance das metas da sua empresa. O poder de fazê-las jogarem a seu favor está nas suas mãos. O que vai ser?
Publicado originalmente no LinkedIn do autor.
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